O Mundo não é um lugar seguro. A calmaria poderá rapidamente, ou até numa questão de segundos, mudar por completo as nossas vidas. Os problemas sociais, a luta pelos recursos, a ganância e maldade dos homens entram por nossas casas todos os dias, em forma de um simulado de emoções que muitas vezes deixamos de sentir que algo seja real. Sim, o Mundo não é um lugar seguro, e a nossa casa poderá muito em breve ser apenas uma lembrança do passado.
Por mais remota que seja, já imaginaram o Brasil ser invadido por um exército de outro país? O nosso país, parece ser imune a todas as guerras que têm decorrido nas últimas décadas. Somos claro afetados de forma indireta, ninguém fica impune nesta sociedade global. Sim, imaginem o que seria se o Brasil fosse invadido, o que fariam?
Esta questão leva-nos à temática do jogo Homefront, um FPS saído dos estúdios KAOS Studios, uma recente equipe que está debaixo da THQ, e que já nos trouxe Frontlines: Fuel of War. Este estúdio de Nova Iorque levou para a sua terra natal um acontecimento a nível mundial, a ascensão do Império Norte Coreano, chamado agora de Greater Korean Republic, onde em 2027 a República Democrática Popular da Coréia (Norte) e República da Coréia (Sul) se unem numa demanda pela conquista global. Um dos últimos alvos, os EUA, tentam a todo custo aguentar a invasão inimiga. O exército está quase controlado, restando apenas ex-militares e populares que se unem numa resistência mesmo dentro do coração da América do Norte.
Este conflito é trazido até nós numa perspectiva tremendamente real. O estúdio não se privou de incluir caras conhecidas do panorama mundial, como Hillary Clinton ou até mesmo Kim Jong-un, filho do atual Governante Kim Jong-II. O acontecimento não poderia ser mais atual. A Coreia do Norte, que ainda se encontra em guerra contra a Coreia do Sul, efetuou ataques e manobras militares. A península vive atualmente num estado de alerta geral, sempre com os olhos do exército dos EUA bem de perto. Todo este ambiente é trazido para o jogo, colocando o jogador bem no meio do conflito nos EUA.
Em Homefront somos Robert Jacobs, um ex-militar que tinha sido preso pelo exército invasor. Como os rebeldes precisam de toda a ajuda possível, nada melhor que resgatar o militar altamente treinado, e o colocar na frente de combate da resistência. E é desta forma que passamos a fazer parte da Resistência pela libertação dos EUA, ajudando assim o exercito oficial.
Desde o início do jogo somos confrontados por diversos acontecimentos que nos remetem para o início desta análise. O Mundo não é um lugar seguro, e perante tamanha movimentação bélica, muitos direitos são perdidos e somos confrontados por cenas que são bem reais, chocando pela sua frieza e impotência. Um menino que vê os país serem fuzilados, ou até mesmo uma vala comum onde teremos que nos escondem debaixo de corpos. O enredo foi escrito por John Milius, que participou também no filme Apocalypse Now, por isso seria de esperar algo grande. Julgo poder dizer, que o ambiente, a forma de tudo acontecer e que nos é projetada é o que Homefront tem de melhor. O jogo chega a chocar em algumas partes, não no sentido de polemicas, mas dando aquele ar de que isto poderá acontecer. E na realidade acontece um pouco por todo o mundo.
Já dentro da Resistência temos que acompanhar quase sempre outros membros, tais como Connor Morgan (clichê?), Rianna, Boone Karlson e Hooper. Personagens que nos darão dicas e encaminham as forças. Diferente de muitos outros FPS atuais, Homefront tem uma forma de estar mais pausada, e não tão frenética na forma que a história é contada. Algo que fiquei agradado, mas que por outro lado, após termino do jogo, achei que soube pouco. A forma pausada não significa um jogo com uma boa longevidade, poderei dizer que devo ter acabado em pouco mais de 4 horas.
Em geral, apenas temos que acompanhar os nossos colegas na consecução de uma missão maior. Para esse fim, teremos que cumprir com determinadas missões, como explodir isto, interceptar aquilo e ir para determinado local. Em todos os caminhos somos interceptados por vagas de soldados, que farão de tudo para nos aniquilar. No panorama atual, Homefront peca por ser pequeno, não variado e extremamente linear. Embora a temática por detrás do jogo seja muito interessante, e a sensação de que algo grande está presente, o jogo é extremamente simples na sua forma. A linearidade do jogo é de tal forma enorme, que apenas numa única ocasião (que me lembre) tive que ser eu a abrir uma porta. Em todo o resto, subir escadas, descer para túneis e ir para a frente terá, que ser feito pelos nossos colegas em primeiro lugar. Existiram muitas ocasiões em que os triggers de ação simplesmente não estavam funcionando em virtude de um NPC estar preso contra outro. Solução? Tive que ir lá e tentar empurrar.
O jogo é fraco em cinemáticas, que poderiam ser usadas para dar um maior background a toda a história, bem como sentirmos uma empatia pelos nossos colegas. Não existe, por exemplo, uma única cinemática que mostra o protagonista do jogo. Claro que isto não é exclusivo de Homefront, mas perante as oferta atuais, o personagem, o nosso eu virtual é de extrema importância para a imersão em toda a experiência. O ambiente está muito bem construído, as casas, as ruas e toda a destruição dos subúrbios de São Francisco. Mas depois peca por um aspecto gráfico que varia entre pobre e razoável. A sua qualidade não é constante, denotando uma falta de tempo ou de preocupação para polir o jogo.
Ficando um pouco mais neste aspecto do ambiente, vê-se que a equipe de produção quis dar uma enorme atenção a tudo que nos rodeia. Existem pequenos detalhes fantásticos no jogo, pequenas particularidades que criam um quadro credível em termos de ambiente. Quando falo de ambiente falo nos sons, na construção das casas, nas ruas, na forma que os níveis estão criados e destruídos. No fundo tudo resulta, a não ser a falta de qualidade do motor de jogo. Colocar Homefront, em termos técnicos, com outro motor de jogo, seria certamente um fantástico vislumbre para os olhos.
Durante a campanha iremos poder usar o já famoso Goliath, que é um tipo de blindado telecomandado em tempo real, que será usado em operações de maior dificuldade, como destruir outros blindados ou helicópteros. Outro aspecto positivo em Homefront são as diferenças entre cada arma. Estas diferenças são notadas principalmente no som característico de cada uma, no peso e recoil. Mas é no componente sonoro que o jogo se destaca. Embora tudo à nossa volta esteja em destruição não é raro sentirmos um frio na espinha perante ataques de todas as frentes. Por outro lado, estes mesmos ataques são uma falsa dificuldade do jogo. A IA dos inimigos não prima pela qualidade, mas sim pela quantidade. Raramente avançam em conquista de posição, mas antes ficam circunscritos nas suas posições efetuando as mesmas rotinas vez após vez. É sempre estranho olharmos com o Sniper para quatro soldados atrás de um muro, fazendo a mesma rotina. Mesmo que mate um, os outros continuam exatamente no mesmo lugar, como se nada tivesse acontecido.
Apesar de todos os defeitos de Homefront, o certo é que tem uma identidade. Coisa rara nos dias atuais. É algo estranho no mínimo, mas não consegui deixar de gostar do jogo. Claro que as suas falhas não são desculpáveis, mas é com sentimento de certa tristeza que se sente que aqui havia muito por onde seguir, principalmente no modo campanha. Existe constantemente uma sensação no ar que o KAOS Studios não conseguiu criar aquele épico, aquele fator que coloca o jogo noutro patamar.
Outros componentes do jogo é o seu modo multijogador. Aqui, tal como no modo campanha, o jogo prima por não ser tão rápido e frenético como, por exemplo, a série Call of Duty. Também, como acontece no modo campanha, existe imensas coisas que aprecem repicadas de outros jogos, principalmente de Modern Warfare. O modo online é uma mistura de diversos mundos, diga-se jogos, mas que cumpre com o seu papel.
Algo interessante nos modos online é a possibilidade de obtermos pontos dentro do online, que são diferentes dos normais XP (Experience Points), que continuam existindo para subirmos o nosso nível. Estes pontos dentro do modo online, permitem ser gastos como se fosse dinheiro. Podemos gastar em ativar determinadas armas secundarias, como por exemplo o RPG, pequenos helicópteros, carros telecomandados com armas ou até mesmo melhor armadura. Ao gastar estes pontos, todas essas funcionalidades ficam desativadas. Cada uma delas tem um preço, sendo as mais poderosas como é óbvio as mais caras. Este aspecto confere um online mais fluído e dinâmico, aliando um pouco a estratégia no combate. Estes pontos de batalha são bem-vindos principalmente para os novatos, que se conseguirem logo no início da partida matar uns poucos, terão rapidamente acesso a armas e funcionalidades mais poderosas.
Existem diversos modos de jogo, os normais por equipes e de objetivos de segurar zonas. Os mapas estão muito bem concebidos. Tal como acontece no modo campanha, existe aqui um cuidado em cada zona, sendo muito diversificados internamente. Existe um máximo de 32 jogadores para o modo online.
Os XP serão usados para subirmos de nível que darão acesso a novas armas e combinações, bem como desbloquear novos modos de jogo. Também é de realçar o modo de jogo Battle Commander, que é extremamente dinâmico. Ou seja, neste modo quanto mais matarmos mais somos recompensados. As nossas armas ficam mais poderosas, a nossa saúde melhora. No fundo quanto melhor formos mais difícil será nos matar, tudo isto decidido pela IA que é o Battle Commander. Por outro lado, quanto mais "famoso" ficar mais facilmente os inimigos te encontrarão no mapa. Não só, também os Drones, aviões e afins detectam você mais rapidamente. Se conseguirmos vencer um jogador que está num ranking elevado no Battle Commander, seremos recompensados por mais pontos de batalha. No fundo, se somos bons somos um alvo a ser abatido.
Homefront não é um jogo fácil de digerir. Se olharem para ele de uma forma rápida apontando todos os erros, será certamente uma experiência não muito recompensadora. Mas se deixarem de lado os seus defeitos existe "vida" além deles. O modo online é um dos melhores aspectos do jogo. É sólido, interessante e muito divertido de se jogar. Não deixa nada a dever a outros jogos do gênero, sendo permeado mais pela simplicidade na sua forma. Como último desejo, espero que a THQ segure a série e que possa aprender com o que foi feito, e poderemos no futuro ser presenteados com uma sequência.
- Gustavo